É tempo de inovar. E isso não é novidade.
É tempo de explorarmos por novas vias todo o
nosso potencial criativo. Nada novo, de novo.
Mas como?
Diante dessa perspectiva, já amplamente
discutida, que nos conduz a inúmeras definições e metodologias que envolvem
esses temas, nos deparamos com diversos cenários e ferramentas bastante
desgastados. Dentre eles, as dinâmicas de grupo: ferramentas poderosas, com
grande potencial de converterem o indivíduo em um elemento ativo, que, quando bem
utilizadas, são capazes de promover integração, motivação, aprendizagem,
abstração, criação, inovação.
As dinâmicas de grupo, por si só, não
"nos dizem" nada. Se pensarmos quantas danças das cadeiras já foram
promovidas por nossas mães, tias e vizinhas em nossas infâncias, rapidamente
concluiremos que para aplicá-las, não há que haver prática, nem tão pouco
habilidade. A sua importância e eficácia se dão no manejo de quem as utiliza e
no olhar de quem as interpreta.
O objetivo da atividade que será desenvolvida
é o aspecto determinante na escolha da dinâmica, que norteará a condução e a
escuta do facilitador. Mas vale ressaltar que uma mesma atividade pode ser
aplicada para fins distintos. Reside, também aí, a importância de um
profissional qualificado para realizar essa "transposição". Caso
contrário, corre-se o risco de haver uma exposição desnecessária dos
participantes, uma mobilização de emoções que o facilitador possa não dar conta
de lidar, ou, simplesmente, de haver um jogo qualquer, que não propicie nenhum
crescimento individual ou do grupo. Situação que ocorre com frequência e que é
a gênese da banalização desse valioso recurso que é a dinâmica.
No último encontro com um grupo do Citibank,
no qual conversávamos sobre "Business Model Generation", nos utilizamos de uma dinâmica que denominamos de "Diálogos de Tirar o
Chapéu". Nosso intuito era promover um "aquecimento" para o brainstorming, que seria a atividade
seguinte praticada no dia.
Antes de descrever o exercício, é fundamental
ressaltar que o mesmo foi inspirado em uma dinâmica criada pelo Dr. De Bono.
Inspiração somente. Nosso objetivo não era o original por ele proposto, tão
pouco nos utilizamos das regras por ele apresentadas, portanto.
A atividade consistiu em solicitar aos
participantes que usassem chapéus que nós distribuímos, nas cores Verde e
Preto. Um único participante, o facilitador, utilizou-se do Azul. Os usuários
de chapéu verde, seriam os inovadores, otimistas, criativos, positivistas, que
apresentariam novas propostas, implementáveis ou não. Surrealismo e utopia eram
bem vindos. Os de Preto, seriam os oposicionistas, presos às regras, avessos a
mudanças, pessimistas, enfim.
O facilitador incitava os participantes de
chapéu verde na cabeça a apresentarem ideias inovadoras para um determinado
negócio, enquanto os de preto, buscavam destruir todas as possibilidades que
aparecessem. Quando eles menos esperavam, seus chapéus eram trocados, ou seja,
alguém que estava rebatento veementemente determinada ideia, passava a ser
obrigado a defendê-la convictamente. E alguns elementos do grupo não receberam
chapéu, não tendo direito assim, de opinar, cocriar ou criticar.
Para nós, é muito clara a relação que há entre
jogo e trabalho.
Mas, dado o descrédito em que caíram tais
atividades, resolvemos dividir essa experiência aqui. Pois essa atividade que
desenvolvemos, com o simples intuito de aquecer o fluxo de ideias dos
participantes, de suas capacidades de argumentação e de escuta, sem nenhum
outro objetivo maior ou mais complexo, acabou por reverberar durante todo o trabalho
que foi desenvolvido durante aquela tarde.
Os participantes solicitavam aos outros que
tirassem seus chapéus dessa ou daquela cor, quando eles já não mais os possuíam
na cabeça; dando-nos o feed-back, ao
final do dia, do quão importante foi o exercício de defender ideias que nem
sempre lhes faziam sentido por inteiro; do quanto perceberam-se resistentes
frente a novas ideias dos colegas, rebatendo-as sem escutá-las atentamente e do
quanto ter permanecido sem chapéu, ou seja, sem voz, os fez refletir sobre a
necessidade de apurarem suas escutas.
Acreditamos que com uma boa condução nas
dinâmicas de grupo, com objetivos claros e pré determinados, bem como uma
leitura atenta de tudo que pode vir a aparecer, é possível alinhar angústias,
lógica, informação, criatividade, para a busca de novas soluções.