A última edição da revista Época Negócios trouxe uma reportagem extensa a respeito da prática de copiar produtos/serviços já existentes no mercado como prática de negócio. Foi apresentada uma "cadeia de imitação", uma espécie de régua, que partia do conceito de uma cópia absoluta, passando por imitação criteriosa, imitação criativa até chegar à cópia de modelos de negócio (segundo a revista, uma "imitação tão benfeita que talvez mereça outro nome. Que tal inovação?"). Vale a pena conferir: fevereiro de 2012/ no. 60
A inovação focada em modelos de negócio (e não apenas nos produtos/serviços) passou a chamar a minha atenção há aproximadamente três meses, em um workshop ministrado por Fabiano Pereira, Eduardo Strang e Franco Fodor na Escola Panamericana, quando fui apresentada à metodologia de Alexander Osterwalder, o Business Model Generation. (*)
Por este motivo, resolvi destacar este aspecto da reportagem, "reproduzindo" aqui o exemplo da Zara apresentado.
Segundo a revista, a marca inspirou-se na estratégia operacional da Toyota e na indústria editorial americana. "A parcela Toyota da Zara é o modelo just in time, com integração vertical, flexibilidade para atender à demanda, planejamento da produção, escolha racional da localização das fábricas. (...) A parte editorial é inspirada em casas como Simon & Schuster e Penguin Books (...), editoras que vivem de clássicos perenes (...), mas também de obras que seguem as tendências de mercado e, por fim, de livros oportunistas (...) produzidos e lançados em poucas semanas."
A questão levantada ao final das 12 páginas dedicadas ao assunto foi: existe inovação sem imitação?
Gostaria de deixar aqui minhas reflexões, tomando como base os aspectos da Zara descritos na reportagem (não estou me referindo a cópia de produtos). O modelo de negócio da Zara partiu da observação do seu mercado (consumidores, fornecedores e concorrentes) para a detecção de uma oportunidade: uma grande massa desejava o acesso aos produtos de moda, rapidamente e a um preço acessível (embora a H&M já estivesse no mercado antes de sua fundação). A partir desta oportunidade, a Zara aplicou as melhores práticas de gestão encontradas em outros segmentos de mercado. O resultado todos nós conhecemos. Não entendo que o modelo de negócio completo seja, portanto, uma imitação. Até a sua criação, não existia um player na moda que oferecesse esta solução para o mesmo mercado (consumidores, fornecedores e concorrentes). Aliás, na sua completude, nenhum outro mercado oferecia algo parecido, uma vez que o desenho final trazia elementos de negócios diferentes. Finalizando, no que tange ao modelo de negócio da Zara, na minha opinião, houve inovação sem imitação : existiu um olhar atento ao desejo de consumo não atendido e às melhores práticas de gestão, que foi capaz de gerar uma síntese inovadora de tudo isso, não existente até então.
(*)Neste mesmo evento, conheci Maria Augusta Orofino que me convidou a participar de outro workshop com o próprio Osterwalder no Rio de Janeiro. Desde então, venho estudando o assunto e, em breve, dividirei aqui mais detalhes.